BDSM

por H. Thiesen 

Cada pessoa é detentora de seu pensamento e ninguém pode igualá-los, como impressões digitais, eles ditam a personalidade de cada um. Como digitais de almas, se compararmos duas ou mais pessoas, por mais parecidas que sejam, seus pensamentos em serão iguais em determinadas situações e divergentes em outras, podem se parecerem aqui e diferentes alí. Além disso, cada um dos seres humanos possui uma característica, que torna muito difícil conhece-lo profundamente, a imprevisibilidade, ou seja, uma pessoa pode agir de diferentes forma para com situações parecidas. Existe também, as duplas personalidades, isto é, para determinadas situações, eventos, momentos ou hora é uma coisa ou outra, dependendo do seu estado de espírito, emoção carregada, afetividade aos envolvidos, etc. Em resum
Ninguém é capaz de definir, analisar ou conhecer profundamente um ser humano, pois ele é livre para fazer aquilo que achar melhor ou que melhor se adequar para o momento que está vivendo, desde que não cometa transgressões. Muito depende da cultura, praticada por ele e pela sociedade que o envolve e que dela ele faz parte.
Qualquer sociedade possui um ritmo, um cotidiano, costumes e culturas, que formam o pensamento coletivo de uma comunidade. Cada povo cultiva uma forma comportamental, ou seja um paradigma de comportamento que terá reflexo sobre cada um dos indivíduos que o compõe e não será exagero se alguém adotar níveis comportamentais abaixo ou acima daquele que é praticado, ou seja, há margens toleráveis.
Exemplificando, em toda sociedade existem indivíduos criminosos que cruzam pelas ruas e esquinas, ao lado deles há os indivíduos transitando pelos mesmos logradouros, há pessoas que vivem do sexo e outras que trabalham em creches e escolas, delegacias, farmácias, industrias, supermercados e uma infinidade de profissões. Cada um desenvolve e pratica o que lhe foi conferido ou planejado para aquele determinado período de tempo, não importando para isso qual seja a raça, cor, time do coração ou religião, que se traduzem em comportamentos e estes podem ser, normais, estranhos e até mesmo hediondos.
Ao lado de cada um dos comportamentos individuais, há as razões para essa ou aquela atitude e são elas que ditam se determinadas ações serão levadas a termo em público ou anonimamente, ou seja, dividem-se em padrão coletivo e padrão intrínseco. Os padrões coletivos são os comuns a cada um dos componentes da comunidade, os padrões intrínsecos são aqueles que comumente são chamados de aberrações e necessitam do anonimato, pois vivê-los publicamente por gerar serias consequências para o indivíduo ou para a sua família, por que não são aceitos como práticas normais, apesar de não poderem ser consideradas crimes, contravenções ou transgressões. Exemplo disso é um homem respeitado, visto como forte e viril, mas a noite deixa suas fantasias saltarem do seu íntimo e veste-se com roupas femininas, mas deixa-se penetrar com próteses penianas manipuladas pela sua esposa. Ou, uma esposa totalmente amorosa que à noite transformasse em uma mulher compulsiva por sexo e altamente dominadora do seu parceiro.
É neste quadro comportamental que se encaixa o BDSM, ou como seja, Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo.
O padrão de comportamento sexual constante no BDSM, é raramente percebido em locais livres da censura popular, os praticantes geralmente assumem esse tipo de conduta sexual para quem seja adepto das mesmas idéias e a pratica se restringe a locais apropriados e longe dos olhos alheios.
Dar significado ao BDSM é simples.
O "B" é relativo à pratica do "bondage", o qual é relacionado aos atos e ações, geralmente a imobilização da parte submissa, através da amarração com cordas, correntes, algemas e similares, faz parte dele a pratica japonesa do "shibari" (traduzindo literalmente: amarrar), um meio mais sofisticado e artístico de imobilização, desenvolverei sobre isso em uma futura postagem. 
O "D" significa "disciplina" e como em toda a atividade humana, ela é essencial para que algo seja bem feito e satisfatório. Na disciplina é onde se estabelece os limites e as tolerâncias, à parte dominante cabe a observação dos limites e à parte dominada cabe a tolerância do que lhe é infringido observando o seu limite, evitando a ultrapassagens dos extremos, ou seja, o prazer é a meta e a responsabilidade uma obrigação.
O "S" significa "submissão" e dele subtende-se o princípio do "controle" ou dominação. É claro e de comum acordo, que não existe submissão, onde não há alguém controlando ou tomando o poder para si. Diferentemente do que pensamos, dominação e submissão não são opções ou escolhas, mas duas tendências comportamentais, que se relacionam entre si, porém são distintas, a parte dominante sente prazer exercendo o controle e a parte dominada ou submissa, sente prazer ao ser controlada.
Finalmente o "M", que significa "masoquismo" e pela relação de necessidade, como no anterior, subtende-se no acrônico o "sadismo", ou juntado as duas expressões, sadomasoquismo. São tendencias e etimologicamente, quase se igualam às tendencias de dominação e submissão, pois são dois opostos que se relacionam entre si. Não é possível existir um sádico que não exerça o controle e nem submissos que queiram controlar, apesar de que em certos momentos, cenas e situações, as tendências se confundem em uma simbiose, capaz de confundir e deixar duvidas sobre quem realmente é o dominador e o dominado. Mas para efeito de definição, sadismo é um instinto que leva um indivíduo a sentir prazer causando dor a um outro e masoquismo é instinto que leva um indivíduo a sentir prazer ao sentir dor.
A dor no BDSM não é causada apenas pelo sofrimento físico, mas também pelo moral. Nem sempre estão relacionados e há sádicos que sentem prazer somente imputando o sofrimento físico, há sádicos que sentem prazer apenas no sofrimento moral e há os sádicos que sentem prazer em ambas as situações, do mesmo modo e na mesmo proporção há essas diferenças entre os indivíduos submissos.
Normalmente confundimos BDSM com Sadomasoquismo, é preciso saber diferenciá-los. O BDSM é um movimento e o sadomasoquismo o objeto. Dizer que são iguais é errôneo. O BDSM é a organização das relações entre as tendências que dele fazem parte e o Sadomasoquismo é o afloramento dos instintos dos indivíduos que possuem as tendências. Uma pessoa dominadora, nem sempre será um sádico irresponsável, mas um sádico obrigatoriamente, deverá ser dominador e manipulador e poderá ser irresponsável nos seus atos, chegando a cometer atrocidades, devido a falta de controle dos seus instintos.  Do outro lado, um masoquista irresponsável, na falta de um sádico para oferecer-lhe sofrimento, pode se autoflagelar, a ponto de chegar ao suicídio. Podemos afirmar com certeza que, sadomasoquismo sem controle, não é BDSM.
As relações BDSM sem devem ser consideradas seguras e devem obedecer a uma ética, chamada SSC, Sadio, Seguro e Consensual. Sadio por que, os envolvidos devem estar, conscientes e fazer apenas o que lhes mantenham a integridade física, psicológica e emocional. Como em qualquer atividade de risco, o cuidado e o conhecimento são obrigatórios e isso demanda em "segurança" e consciência do que estão fazendo. Qualquer mal-entendido deve ser evitado, limites devem ser respeitados e separados o que é aceitável dos abusos, portanto haverá sempre o "consenso" entre as partes envolvidas, que estabelece as regras da relação.
Podemos classificar com BDSM, as praticas de dominação, submissão e sadomasoquismo que atenderem à segurança e integridade dos envolvidos, forem racionais, diferenciar a fantasia da realidade, tiver consciência e conhecimento sobre as ações, houver responsabilidade e limites respeitados, o quais geralmente são estabelecidos pela safeword, palavra chave ou senha, a declaração da parte dominada ou submissa, que chegou o seu limite suportável.
Como escrevi anteriormente, este é o primeiro de uma série de artigos que irei escrever sobre o assunto, em cada um deles procurarei me aprofundar mais um pouco e manter uma linguagem simples, para que seja entendido pelas pessoas leigas ao assunto.

fonte: www.pensamentoindecente.com